Helvética nazista


Grande parte da graça do documentário, em um primeiro momento, foi pensar que ele era sobre uma fonte. Nunca pensei que letras fossem um tema interessante o suficiente para um documentário. Muito menos algo que tivesse material histórico por trás. Na verdade, pra mim uma fonte nada mais era que um conjunto de letras. Era só a roupinha da escrita.

A segunda grande parte da graça foi, depois de perceber que fontes são uma forma super válida, justa e honesta de produção de design; enxergar que a única fonte existente no mundo é a abençoada da helvética. Realmente, ou pelo menos dentro do universo de amostragem viciado europeu e urbano mostrado pelo documentário; a helvética tá em tudo. Enxerguei nela algo bonito de início, ainda mais com o tanto de senhorzinho designer modernista falando bem dela, ressaltando seu caráter neutro, limpo, prático. Durou pouco essa visão. Foi tipo acordar e enxergar um tanto de forma geométrica por conta da sua vista se acostumando com a luz. Foi um delírio, mas passou.

O terceiro momento, pra mim o mais divertido de todos, foi ficar chamando a helvética de nazista. Porque realmente, parece que ela matou a criatividade dentro do maravilhoso mundo das fontes. E tem mais, o que diabos de argumento é esse, ressaltando o caráter “neutro” de uma fonte? Fonte é literalmente uma escolha, não dá pra escolher ser neutro. Isso é coisa de modernista mesmo. Tô com tanto ranço dessa fonte que estou escrevendo em Comic Sans (espero que ela não seja um desdobramento direto da helvética, se for uma forma de negação eu tô suave).

Por fim é isto que levo do documentário. Uma preguiça de toda produção padronizada e de caráter industrial no design e a sensação de que eu vou ter que fazer eu mesmo do zero toda e qualquer produção artística possível, para não cair no limbo do Default. Obrigado, AIA’s, por mais esse posicionamento radical na minha vida.

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